"É Bebé, mamar na vaca se num qué né!?"
"Mais amor e menos confiança!"
Me peguei reproduzindo estas frases para a Elisa agora, lembrei que minha avó me dizia essas frases quando eu estava querendo agarrá-la e beijá-la ou quando achava que eu estava tentando engambelá-la.
Minha avó! Durante a sua vida gerou 10 filhos, criou 5 filhos dos que viveram, 1 sobrinho e 2 netas das quais uma era eu. Mulher guerreira, alicerce da casa, autêntica nas palavras, autonôma em suas ações, incapaz de fazer mal a alguém, fervorosa era sua fé. Escrevia poesia e cheirava a lavanda. Costurava, bordava e crochetava. Gostava de chupar laranja-lima, fazer doces de compota como boa mineira e seus pásteis eram divinos. Fala mansa, quando brava a voz sumia, sotaque fino, alta e magra, pele despigmentada, cabelos lisos bem lisos, presos numa trança que virava um coque, lisos provenientes de sua herança indígena. Sono leve acordava com qualquer barulho, no entanto, gostava de acordar tarde. Cantava músicas do Noel Rosa e sempre me tirava pra dançar. Nunca me batia e quando ia receber o benéficio mensal do meu avó Adelino (deficiente visual) me levava sempre com ela, me dava sempre um dinheirinho e comíamos pão-de-queijo na Praça do Carmo, compravamos biscoitos de polvilho e balas dadinho. Me chamava de "Benzoca da Vovó". Deixava bilhetes dizendo que me amava e falando sobre a palavra de Deus espalhados por lugares que sabia que eu acharia. Me levava para a natação no Del' Antônia, ela mostrava a carteirinha para o motorista do ônibus e eu adorava descer pela porta da frente, sentia-me superior aos outros passageiros. Fazia batata-frita para o almoço mas só começava a fritá-las quando me via da janela da cozinha descer a rua da escola devolta pra casa. Pra adoçar minha pequena vida de criança criada pela avó comprava melzinho na farmácia e me dava um por dia, quando não, me fazia balas de acúçar caramelado pingadas na água.
Viveu até 80 anos. Infelizmente foi morar em outro plano astral meses antes de eu ficar gestante, o que me deixou triste por não ter conhecido a bisneta, tenho quase certeza que cuidaria dela como cuidou de mim.
PS: sempre me perguntei quem teria sido o Bebé (?) o cara que não quis mamar na vaca.
10 comentários:
Minha nossa! Lindo texto! Laranja lima tb me lembra minha avo Maria Soledade. Seu olhar era um tanto melancolico como o seu nome. Maria Solidao gostava mesmo de ficar olhando para o quintal de pintangueira, goiabeira e outras eiras pensando na vida. Coisa de vo do interior da Bahia.
Beijos
Aiaiiiiiiiiiiiiiii
Seu texto me emocionou e me fez lembrar da minha avó linda, o ser q mais me amou ou me ama na vida, minha melhor amiga e o ser mais importante a quem devo td de melhor, pois ela tbm me criou assim como a sua... Meus pais trabalhavam e eu fica com ela, ia me buscar na escola, e me levava ao banco, ao supermeracado comprando sempre minhas bobagens rsrs...ai como isso era bom, como viu!!!
Hoje ela ainda vive mas está cada vez mais complicado conviver com ela, pois está doente com Alzeimer e apenas se lembra do passado e ainda mtu pouco q sou sua neta... Te amo mtu e nem gosto de pensar em perde-la e gostaria mtu que ela soubesse o qnt foi e é importante na minha vida...
Seu texto é maravilhoso rsrs
nem vo falar nada pq eu sou suspeito. mas Óoo... duka!
é... quem foi criada(o) com avós sabe do que eu estou falando... eu sinto uma imensa saudade dessa grande mulher e sei que ela está sempre comigo, olhando por mim, porque a morte não é a morte do espírito... ah, díficil!
Gil, vc é um dos que adoram me colocar pra cima quando escrevo minhas besteirinhas! rsrs!
vc é super suspeito mesmo!
eu me lembro bem da Dona Zezé!
Ô querida, é admiração e não é pouca não! vc quando escreve sabe mto bem o que ta fazendo. é disso que eu gosto no seu texto.
Um dos grandes mistérios da humanidade, quems erá esse cara, hahaha.
Belo escrito.
beijo.
Desculpe a intromissão, porém eu conheci o Bebé, e posso dizer em poucas palavras quem foi aquele sujeito preguiçoso e brejeiro.
Certa vez, ali pelas cercanias do Largo do Rosário, em minha querida Ituverava, cochilava debaixo de uma jaqueira o tal Bebé Forga; o sujeito não podia ver uma sombra que logo ia escorando o tronco. Ocorreu que o Sinhô Vardemá estava ordenhando a vaca Mimosa, quando se aproximou dele Bebé, com uma caneca de alumínio encardida de fazer medo, dizendo: _Sinhô Vardemá, num tem aí um cadiquim de leite pra eu tomar, é que meu istam ta queimando que nem brasa no inferno.
Imediatamente Vardemá respondeu: _Bebé, sente aqui e ordenha um pouco em meu lugar que eu vou ali picar um fumo e já vorto.
Bebé respondeu: _Se é pra beber o leite na teta da vaca eu prefiro ficar com o istam em brasa.
Sinhô Vardemá não teve dúvida e disparou a frase que ecoaria muito além das cercanias de Ituverava: _Aé Bebé, mamar na váca ocê num qué né!
Até: Jefhcardoso.
kkkkkkkkkkkkkkk...
adorei Jefh, muito esclarecedor o seu comentário!
Li seu texto, aliás li quase todos, não comento pq não consigo mas tenho que dizer: vc escreve muito bem!
O da vó chorei.... aliás tô aqui cheia de lágrimas no olho... pena que não são todos que podem "conhecer" esse amor maior do mundo que é o de uma VÓ!
hahahahaha, as batatas fritas... puta merda, minha vó tb só fritava as benditas qdo ouvia eu chegar em casa, pra não muchar....
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