A cartilha Caminho Suave é didático do meu tempo para alfabetização de crianças, aprendi a ler com ela. Minha tia Bete tentou encontrar a cartilha ou algo similar não encontrou, a vendedora da livraria disse que possivelmente o livro só é adquirido por encomenda e que seria caríssimo por não ser mais usado pelos professores, meio que virou reliquia ou algo fora de moda, ultrapassado. No entanto após fuçar muito ela encontrou um baralho de cartas didáticas da cartilha. Pirei quando vi, achei demais quando ela chegou com o presente para a Elisa, me remeteu a anos atrás. Há quem ache esse tipo de didática não muito adequada (principalmente os profissionais da Educação) mas eu considero aceitável se este for um apoio a outras didáticas vindo a somar.
De fato, procurar algo desse tipo para ajudar na alfabetização dela não passou pela minha cabeça, displicência minha mas agradeço por ter pessoas ao meu lado pra me dar um suporte (quase técnico, rs). Sem minha família - juro - eu não seria nada do que sou. Fui presenteada por Deus e pelas forças divinas apesar de todas as adversidades. Na verdade eu preciso dizer mais isso a todas essas mulheres guerreiras e maravilhosas que me criaram.
Minha tia sempre me deu muito apoio e incentivo (na verdade toda minha família sempre deu grande importância à isso) nesse lance de estudar, comprava cadernos, livros, lápis de cor... tudo que se possa imaginar e agora faz o mesmo com minha filha. Lembro muito da minha infância, quando eu tinha a idade da Elisa ela estava na universidade e me levava junto quando ia estudar, sentavamos na biblioteca da faculdade ela na mesa de adultos e eu numa mesa menor, eu lia os livros e desenhava enquanto ela adquiria o conhecimento que hoje tem até de sobra e me faz sentir mais orgulhosa me dando ainda mais incentivo para que eu continue e não pare de estudar nunca.
A admiro desde sempre e mais pela sua luta cotidiana. Tal foi seu empenho comigo que peguei gosto pela coisa, sempre fui boa aluna, nunca repeti de ano e gosto de estudar, é um dos meus maiores prazeres. Já fui até estereotipada de CDF (e sou um pouco mesmo, sem vergonha de dizer! sou uma CDF maloqueira). Vou voltar a estudar num futuro bem próximo, sinto falta, necessidade do cheiro dos livros, do universo diferenciado que é uma escola, uma faculdade, a sala de aula. Numa família de empregadas domésticas estamos quebrando um ciclo, fazendo a diferença a partir da Tia Bete primeira a ter formação acadêmica e com fé não será a última. Podemos dizer de boca cheia que na Família Dias, uma família negra existe Psicóloga, Assistente Social, Biólogo e Engenheiro. Meus avós de onde estiverem, tenho certeza estão orgulhosos.
Hoje eu e a Elisa começamos as aulas (rs). Letra por letra, escrevendo, memorizando as figuras, desenhando. Tudo de bom, me senti tão bem ao estar com ela, ensinando, participando do seu desenvolvimento, me orgulhando de ver aquela mãozinha pequena pegar no lápis e riscar as letras redondinhas ao máximo que ela consegue fazer. A alegria dela ao estar comigo e dizer que "eu sou uma professora tão legal", tudo isso não tem valor.
3 comentários:
São as marcas do bem que ficam tanto na vida de uma quanto na da outra. A simplicidade desse contato de confiança, admiração e prazer, acaba ultrapassando todas as teorias da educação. =)
amo você, sua cdf maloqueira!
sabe que fui alfabetizada em casa com a cartilha caminho suave? emoção...
É verdade Gil, os laços estreitados por consequencia dessas pequenas marcas é que nos faz amar cada vez mais e sempre será mais importante que qq teoria...
Tia Bete, apesar do momento que está passando, delicado e doido, nós te amamos muito e estaremos sempre ao seu lado, agradecidas por todo amor, compreensão e respeito que teve desde sempre por nós. Tudo isso vai passar...
Muitos beijos no coração, bençãos de Oxalá, Yemojà e Oyá.
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