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transeuntes.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um tema pouco discutido.

Discutir a questão racial nunca foi e nem nunca será um tema de fácil abordagem, por fatores ideológicos, pelo não entendimento estrutural e de como se deu essa construção, pela pseudo-democracia racial que muitos pensam existir no Brasil, pela limitação individual ou mesmo pela negação de todos esses fatores.
É um tema pesado, tenso, complexo que mexe com singularidades e particularidades e tudo isso por ser pouco discutido, o que temos para abrir um debate é o que nos foi ensinado na escola na melhor das hipóteses.
Hoje a formação com a Glória e Ana Clara na Escola da Saúde teve esse tema como foco. Passado vídeos, observei pessoas virando a cara para não ver tamanha crueldade, massacre, e açoite em detrimento dos negros desde que em terras ocidentais pisamos. Involuntariamente ou voluntariamente? Não sei. O que sei é que esse tema mexe muito comigo por causa e experiência vividos a flor da pele. Fiquei mal depois por perceber a nulidade diante do fato consumado. O que as pessoas tem por normal é na verdade alienação. O não reconhecimento da Xuxa mostrando aos baixinhos pobres, pretos e favelados o belo café da manhã, o turismo feito na favela pelos gringos, a mulatização e eugenia concebidos e impostos pela hegemonia brancóide.
Logo quando se fala em racismo para amenizar o fardo, diz-se do "racismo às avessas" e nos coloca como protagonizadores da ação, como os maiores racistas, quando na verdade a única coisa para que lutamos é que os brancos se reconheçam enquanto brancos com privilégios e não a pé de igualdade com os negros por conta de uma ou outra situação. Que tenham o entendimento que o racismo é um sistema de dominação, de poder e opressão, sendo assim, até de olhos fechados podemos afirmar que negros não o colocam em prática.
O mais doloroso pra mim foi escutar de um colega de trabalho "branco", depois de tudo mostrado e explicitado que minha exautação no debate era "muita mágoa" em tom irônico, como se viver quase 30 anos da minha vida numa sociedade pré-conceituosa, racista e excludente fosse me fazer sentir contemplada.
A confusão diante dos fatos históricos e até na conceituação e diferenciação das palavras preconceito, discriminação e racismo é notória quando nos voltamos para o tema racismo, confunde-se racial com estética facilmente, o que implica na minimização do fardo branco, novamente querendo se colocar no mesmo patamar de igualdade - ou desigualdade - dos negros, querendo-nos mostrar que são tão vitimizados quanto.
O processo de miscigenação, a ideologia de dominação e o linchamento étnico dos nossos colonizadores deu tão certo que hoje ninguém têm identidade étnica ou racial, o que transforma-se em instrumento fácil nas mãos da sociedade capitalista e racista que estamos inseridos.

Para quem tiver a fim de ver os vídeos que foram passados e que geraram as discussões:

* Amistad

* Quanto vale ou é por quilo?

22 comentários:

GIL ROSZA disse...

Se é coincidência eu não sei, o fato é que em menos de 50 anos do século 20, uma parcela considerável de negros nos EUA ascenderam socialmente e se tornaram parte de uma classe média consumidora, bem empregada e com visibilidade documentada. Isso não fez o racismo americano desaparecer e apesar dele, como grupo, houve uma ascensão. Na África do Sul demorou um pouco mais, mas aconteceu o mesmo também em questão de poucas décadas e lá, embora oficialmente não exista mais apartheid, o racismo também não desapareceu. Como é que se explica negros ascendendo numa sociedade declaradamente racista?
Citei propositalmente o consumo nos dois casos porque não sejamos hipócritas, é sim o acumulo e a ostentação de bens e recursos que mostra publicamente que alguém é socialmente bem-sucedido e isso implica nele ser considerado inteligente? Claro que sim. Por mais que minha educação cristã me repreenda em dizer isso, todo mundo sabe que nas entrelinhas é assim que eu e todos nós, negros ou brancos somos medidos, aprovados ou reprovados silenciosamente! Então por que nos últimos 100 anos o negro brasileiro não ascendeu socialmente? Será que é por causa do nosso racismo soft? É porque o Mussum e Tião Macalé eram modelos do negro pacato, risonho e conformado ao seu lugar de pária? Será que é porque os governos anteriores não ajudaram? Porque crianças negras não tiveram acesso a educação de qualidade? Por que? Como explicar então que chineses analfabetos sem falar uma linha de português, árabes sem diploma, poloneses pobres, espanhóis rústicos e portugueses sem um centavo no bolso chegaram aqui como imigrantes degredados e em pouco tempo se tornem empresários da Fiesp, mafiosos da 25, ricos comerciantes botando os filhos pra estudarem comércio exterior no Mackenzie, na USP, enquanto os negros que chegaram há mais tempo, também como degredados, seus e filhos, netos e bisnetos inflem a população carcerária do país? E a pergunta persiste; por que é que como grupo, o negro brasileiro ainda não ascendeu socialmente?

Thaissa Costa disse...

O preconceito é um passo ao abismo. Aliás, um passo enorme, desses que quase não se congue recuar. Infelizmente o ser humano usa apenas 5% do cérebro e isso deve responder às minhas dúvidas quanto a essa ignorância toda. A vontade é de refazer a história. Voltar onde a separação por cor, religião, opção sexual não existisse. O mundo sria bem melhor e mais justo.

Leonardo disse...

mandou muito em meu, muito bem elaborado e muito forte consciente, é uma situação muito foda né mas tá ótimo parabens!!!!!!!!!!!
essa galera aí já era o sistema já tomou por completo é muito fácil analisar as coisas quando esta do lado de quem manipula as coisas!!!!

Flavio Psicopreto disse...

rs... cê pode falar q o brasil é desigual... racista jamais!!! os reaça se posicionam logo!!!

Júlio disse...

aí prima eu entendi um pouco do que você falou.

Paulo Sergio Paz disse...

Vc sempre falando de temas relevantes para nois, suas abordagens sao magnificas, parabens e obrigado por escrever tao brilhantemente.
bjs to com saudades de nossas conversas

Anônimo disse...

Como é dificil enxergar uma realidade. Como é fácil e confortável eliminar parte da história para se eximir das atrocidades cotidiana neste mundo, como é confortável assistir o jornal e ver vários crimes contra mulheres e negros e negras e só dizer: "Nossa que mundo cruel", como se isso fosse algo que quase não acontece e como se o expectador não tivesse nada a ver com isso. Dói os olhos Camila, dói o corpo e arde a boca entender esta lógica, e não vamos ficar achando que iremos colocar algo no lugar. Não tem o que colocar no lugar, até porque já tiraram tudo da gente e pior não nos damos conta disso, que tiraram nossa história e colocaram uma merda de um conto de fadas no lugar.

FABIO E. DE SOUZA disse...

Como explicar a execução de um negro pobre dentro das casas bahia com seu carnê no bolso da bermuda, mas o segurnça achou que ele estava em atitude suspeita e atirou, mas como as casas bahia é uma mina de ouro em propaganda na tv pouco se falou nos telejornais.

Flávio Sant´ana morreu por ser negro. Mesmo pertencente às camadas médias e dentista formado recentemente. Morreu numa movimentada avenida, quando foi confundido com um ladrão e foi executado de forma fulminante sem ter esboçado nenhuma reação.

"elemento suspeito cor padrão"

Preconceito o câncer na alma

Unknown disse...

Nesse assunto a gente costuma a ver a coisa em dois lados numa atitude bem maniqueísta. Acho que não pode ser por ai. Se for ver, toda sociedade que convive no mesmo espaço com grupos que se consideram diferentes dos demais seja pela cor da pele, tipo de cabelo ou de olhos, credo, costumes e preferências particulares em assuntos sexuais, tende a estranhar e ter dificuldade para aceitar o outro como tendo algum valor. Quem viu “Hotel Ruanda” sabe que hutus e tutsis historicamente massacram uns aos outros, embora sejam todos africanos e negros, se vêem racialmente diferentes. Acho que aceitar bem o familiar e evitar o diferente, o que se ensina a ver como feio e ameaçador porque não se parece com a gente é um tendência humana independente da pessoa ser branca ou não.

Unknown disse...

Oi Camila,
Acho interessante vê as coisas como elas são realmente:
- Taxa de analfabetismo funcional entre a população branca é de 15,8% enquanto na população preta é de 25,5
- Acesso a saúde para a mulher negra é mais precarizado,46,3% da mulheres negras nunca fizeram exame de mama, na pesquisa do IBGE aponta ainda a desigualdade na qualidade do atendimento (porque será né?)

Vi este dados e fiquei pensando, quando falam que o racismo parte dos próprio pretos ai fico fudido... muita cegueira, muita cegueira... lógico que este mito da democracia racial brasileira esta com seus dias contados, mas precisamos refletir a questão com o cuidado e inteligência.

Abração
Edson Ikê

* MONGE * disse...

só pra constar (discussão travada com um camarada a respeito do homosexualismo e pré-conceitos)


hoje temos um ascenso de posturas totalitárias como temos bem visto e é contra toda e qualquer forma e perseguição, seja ela étnica, sexual, religiosa, ou qualquer outra particularidade
humana, que devemos lutar. particularidades que se forem de fato levadas as últimas instâncias são
as grandes responsáveis pela riqueza cultural produzida pelos homens no decorrer de sua existência genérica.
Cercear os indivíduos de responder por sua individualidade é a tática mais vil e presunçosa de controle social,
é a prática mais antípoda aos ideais de liberdade que acompanham as lutas emancipatórias. Muitos dos deturpadores da
teoria marxista usam de charlatanisses para esconder suas posturas reacionárias em relação a sexualidade tomando-a como naturalmente pósta, e fácilmente reconhecível na família mono nuclear, munen-se de piadas infelizes e guardam a sete chaves todo e qualquer desejo "escuso" estes não consideram entretanto, que os homens quanto mais
se constróem como seres sociais, tanto mais estes homens deixam de responder instintivamente aos seus anseios ou necessidades
biológicas meramente animais, mas passam ao contrário a serem criador e criação de novas bases de "acolhimento" social e novas
perspectivas de análise destas útimas. portanto desconsiderar a necessidade e a grande valia das diferênças é minimamente colocar-se contra
o desenvolvimento da individualidade humana; pré-suposto da sociedade liberta. sendo que toda a ação que não pré-
suponha a observancia de toda a diferênça e que não se coloque radicalmente contra TODAS as formas de subordinação
destes por aqueles é mera prática da política e como bem sabemos é negativa por excelência e deve desaparecer junto desta.

abraços

monge

Abiodun Akinwole disse...

Ixe moça, isso aí que vc escreveu remete a muito que sempre ouço a explanar a questão sócio-histórica do racismo no Brasil. Sempre nos foi colocado que a questão não é racial em si, e sim social. Pior que é pura babozeira e todo mundo acredita piamente nisso.

Fora a exploração da nossa terra ancestral, nos raptaram para trabalho escravo e não nos deram nada depos. Após todo esse sofrimento ainda tem gente que vem me dizer que eu faço "racismo às avessas" e tenho um tipo de complexo por ter raiva destes fatos históricos e do sistema em si. É de se indignar mesmo! Se eu tenho aversão a cultura católica-apostólica-romana-européia-eurocêntrica deles, eu tenho toda razão! Não faço nenhum racismo às avessas porque racismo é um sistema que afirma superioridade ao outro. Se eu, como parte de um povo massacrado e marginalizado, eu não sou sistema, logo não posso ser racista. Mas o senso comum nunca entende isso!

E já diria meu pai: - O que fizeram com nossas cabeças?

Nossa cabeça continua em jogo, e o lance maior é pra ficarmos calados.

Abiodun Akinwole disse...

Ah, e outra, tem coisas que li aqui nos comentários que me deixaram alerta:
Com relação a outros países é legal comparar, mas as situações são diferentes. O Brasil sempre foi mascarado e é isso que aliena. Além de mascarado, a exclusão aqui foi apenas para o negro em primeira instâncis. Imigrantes sempre tiveram asistência. então é foda ficar comparando e ainda perguntar o porquê. Nós sabemos qua a ascensão capitalista é uma pontinha no iceberg de tentar igualar grupos de seres humanos sociohistoricamente em conflito.

Outro ponto é ver conflitos étnicos como os que às vezes acontecem em África e comparar com o racismo. Grupos que estão em situações iguais, nenhuma subjulgou a outra, mas há um conflito de interesses que o sistema europeu mostrou bem ao nosso povo e vem querer mostrar através da mídia que nós brigamos entre nós mesmo por conta das diferenças para defender novamente a democracia racial e a estagnação do discurso para igualar os desiguais além de descentralizar o foco principal: o genocídio étnico pelo branbco europeu pela exploração, escravidão e destituição dos valores do povo negro; a necessidade de explicitar que o sistema continua sendo eurocêntrico e racista; a necessidade da reparação de danos causados ao povo negro em todas as diáporas e na terra-mãe para que a igualdade seja de fato estabelecida, sem a falsa promessa capiutalista-liberal que envolve o mundo de hoje.

Didi. disse...

Considero importante tudo que escrevestes, mas essa verdade que ta estampada na nossa cara fica invisivel aos olhos alienados...o video da boneca me comoveu muito, sempre discuti isso, da criança não ter uma referência condigna, vendem uma branca,magra e cheia da grana, o dito padrão perfeito. Imagino a frustração dos guris de buscarem uma imagem da barbie de bochecha rosada, causa uma baita baixo-auto-estima.

Aqui no Maranhão tem uma rádio que promove uma ação muito massa, eles falam de contos do reino iorubá. Entretanto é preciso virar lei a possibilidade de contar a história do negro na grade curricular. Triste não saber a própria origem. Até isto nos roubaram.

Didi. disse...

http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/05/24/a-pobreza-muda-de-cara-a-violencia-tambem/


acho que vc vai gostar do blog.

Camilla Dias Domingues disse...

Didi, gostei do blog.

À todos que postaram seus comentários, valeu por fecharem comigo e com a causa. Acredito que consegui de aguma forma o que queria: construir mais um debate e mesmo sem se conhecerem aconteceu isso aqui.

Só fiquei chateada porque mandei esse texto para algumas pessoas brancas que se sensibilizam com a causa e mesmo assim nenhuma delas respondeu ou comentou o post, aqui a maioria dos comentários são de negros com exceção da Thaissa, Monge e Fábio.

José. disse...

muito bom o artigo, parabéns.

Dárcio Argento disse...

Um dado apenas, a sociedade burguesa e seu aparato iluminista pressupunham a quebra dos privilégios e a igualdade de oportunidades. Daí por diante, acreditavam os enciclopedistas, todos partiriam de um mesmo marco e, de acordo, com suas capacidades alcaçariam suas posições. Pois bem, olhando a história, pelo menos, o ocidente, nenhuma forma de organização social se utiliza(ou) mais de todo tipo de preconceito que a sociedade burguesa. Um paradoxo ?

Dárcio Argento disse...

Um dado apenas, a sociedade burguesa e seu aparato iluminista pressupunham a quebra dos privilégios e a igualdade de oportunidades. Daí por diante, acreditavam os enciclopedistas, todos partiriam de um mesmo marco e, de acordo, com suas capacidades alcaçariam suas posições. Pois bem, olhando a história, pelo menos, o ocidente, nenhuma forma de organização social se utiliza(ou) mais de todo tipo de preconceito que a sociedade burguesa. Um paradoxo ?

Unknown disse...

DITADURA DA TELEVISÃO.....
Se você tem dúvida que no Brasil existe racismo....é porque não assisti televisão, é só ligar na hora do Jornal Nacional e verá que qualquer propaganda relacionado a temas como bem materiais novos, digo bem materiais novos e caros, não um simples "carnê das casa Bahia", e estarão lá uma famÍlia de brancos,e não contente com isso , brancos e ricos(como trabalharam para enriquecer né, tenho peninha deles)todos felizes, adquirindo o seu bem, e de fundo , quem sabe aparecerá um rapaz negro atendendo, os filhinhos e os futuros racistas no parque de diversão do grande condomínio de luxo 5 estrelas, por outro lado você verá , muitos negros em um comercial de promoção disso ou daquilo, que poderá ser pago em suaves prestações que caberá em seu bolso.... enfim... quem ainda pensa que não existe o racismo no Brasil.... é porque não vê televisão!!!!!
"Em quanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos havera guerra".
Bob Marley

Eu e Fabiana "Soul Sista" disse...

fabiana.blog diz:
camilla
tudo bem?
vc pode falar rapidinho?

camilla diz:
posso
o que foi?

fabiana.blog diz:
camilla
não comentei o texto do racismo né? pq é foda! li várias vezes.
mas nao tinha o que falar
vivi situação semelhante no colégio que trabalhava no RJ
e sei que é foda trabalhar num ambiente onde as pessoas não te entendem
é dificil pra mim até hoje lidar com profissionais, principalmente da educação ou da área social
que minimizam essa questao
é cansativo
são formadores de opinião
mas se recusam a ter opiniao sobre isso
odeio educar marmanjo
e compra acriticamente a idéia da democracia racial
por isso li o texto
entendi seu desabafo fortemente escrito
e suas reflexões
li os comentários indignados da maioria
mas não consegui comentar
era isso
tava pra falar há um tempão
viu como sou prolixa
se deixar falo até amanha de manha
kkkkkkkkkkkkkkkkk
quer dizer, escrevo

camilla diz:
entendo sua posição
não encana, relaxa
o mais importante é que somos pretas e isso não mudará

fabiana.blog diz:
é isso
explicação dada
kkkkkkkkkkkk
já tava aflita
pq entrava no seu blog
e nada saia

camilla diz:
mas isso que tu fez foi um comentário e muito bom vou postar

fabiana.blog diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkk
então tá

Unknown disse...

Um problema que nem começou a se dissolver direito, e já tem uns por aí dizendo que é questão ultrapassada. Obama diz que devemos "deixar as mágoas pra trás", esquecer essa história de negros e brancos. Outros dizem que já estamos numa sociedade "pós-racial". Eu daqui ainda vejo muita coisa no "pré".