Ela estava agitada. Por dentro tudo se mexia como se estivesse dentro de um liquidificador, mas por fora, tudo fluia normalmente na mais calma e tenra espontaneidade que os seres humanos costumam ter mesmo diante de toda a contradição mundana. Tensa, agitada, um dia anacrônico, em nenhum momento se sentiu tácita, suas púpilas estavam dilatadas e o dia, ah o dia! era cinza cromado. O menor ruído lhe soava nos ouvidos e na alma como um estardalhaço, num barulho ensurdecedor que lhe estremecia. Se perguntava como e porque se sentira assim. Motivo aparente havia alguns dois ou três mas todos remediáveis. O que lhe incomodava era bem maior que esses motivinhos tolos que com meia dúzia de voltas ela resolveria facilmente, era bem maior mas ela não conseguia distinguir o que era. Pensou um pouco mais, as sensações continuavam a crescer. Leu um pouco, assistiu qualquer coisa que passava na televisão. Tomou água porque quando está assim sente muita sede. Tirou a roupa lentamente (poderia ter essa impressão quem a observasse), fantasiou até um voyeurismo tolo e imbecil, pois, ninguém estava por perto, deitou e dormiu angustiada e sem ter contato nenhum com o mundo exterior.
4 comentários:
Duka! o tipo de prosa que se come usando garfo e faca. merece guardanapo de linho bem passado e pra beber, vinho tinto.
rsrsr. quando vc fala em ceu cinza cromado, pensei logo em budapeste. o livro tá aqui do lado. o jorge costa achava que budapeste fosse assim, cinza, mas descobriu ao chegar lá que a cidade era amarela!
eu tô com o filme aqui já faz quase um ano, comprei e já tentei vê-lo umas três vezes mas sempre que começa acontece algo e tenho que desligar o aparelho, nunca passei da cena do casal brigando, deve ser bem a primeira cena! rsrs...
Não ter contato com o mundo exterior, vezenquando, é bom demais.
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