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"Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm." (1 Coríntios 10:23a)

transeuntes.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Como dar o que nunca se teve?

Minha tia entrou no meu quarto e começou a puxar conversa. Ela é Psicologa. Falou sobre um cliente que está atendendo e que tem dúvidas se o adolescente está com um começo muito leve de esquizofrênia ou se o problema dele pode ser espiritual, conversamos um pouco sobre isso. Depois a conversa se inverteu para a minha filha Elisa, ela sempre muito preocupada com minha relação com minha filha, pelo simples fato de nos amar. Chamou-me a atenção para as minhas estadas com ela, que não seja quantidade mas que seja qualidade. Eu a entendo mas não é fácil pra ninguém nem pra mim nem para a criança. Disse também para eu me policiar quanto a reproduzir as coisas que minha mãe fez, prestar atenção no relacionamento que tive e continuo tendo com minha mãe. Realmente, meu relacionamento com minha mãe é muito ruim, falta perdão dos dois lados, mas estou trabalhando para que isso aconteça, porque quando eu a perdoar quero perdoá-la com o coração e não só com palavras lançadas a esmo.

Minha mãe nunca teve muito tempo e paciência para o emocional, supria o emocional com o material, o tempo hábil dela era usado para trabalhar. Sempre foi uma mãe ausente, tanto que hoje em dia, sou muito grata a tudo que fez por mim, sei que ela me ama, mas não a tenho como uma amiga, ela é minha mãe apenas pelo título que lhe é de direito por ter dado a luz mas mãe mesmo são outras pessoas na minha vida. É triste, odeio ter que falar isso mas é o que eu sinto. Não que ela não seja uma pessoa boa, é sim, e possui muitas qualidades, uma delas é o esforço, é uma guerreira por tudo que já passou na vida. Não que também não tenha feito nada por mim nesses quase trinta anos da minha existência, sim ela fez, seu único pecado foi a ausência emocional, o que pode ter causado alguns distúrbios psiquícos em mim, mas sim ela me ama e muitas vezes acredito eu, daria a vida por mim se pudesse.

Logo depois que eu nasci minha mãe teve uma infecção e precisou tomar uma medicação, por isso não pode me amamentar senão eu ficaria dopada, quem me deu de mamar durante um tempo determinado foi uma vizinha, eu repartia o leite quentinho daqueles seios fartos com a dona deles de fato: minha irmã de leite e amiga até hoje, Regiane, estabelecemos uma relação de amizade para a vida inteira.

Fui criada desde os dois meses de vida pela minha avó porque minha mãe precisava trabalhar e me "dar coisas". Nunca dar "sentimentos" sempre "coisas" (sempre tive tudo que quis, posso me adjetivar de mimada, reconheço e também sofro com isso, estou tentando trabalhar isso em mim já há alguns anos e acho que já melhorei muito) mas também não posso culpá-la por isso, como alguém pode dar o que nunca teve? Meus avós tiveram 10 filhos - 5 morreram - e minha mãe é a do meio, aquela que sempre sofre mais, como diz a lenda, a que tem menos atenção, que os irmãos batem tale e coisa coisa e tale. Minha avó me contava vários "causos" e dizia que meu avó não tinha muita paciência com minha mãe que era rebelde desde criança, xingava, batia nas outras crianças e não gostava de estudar. Foi exatamente isso que ela passou pra mim. Ela nunca teve o carinho necessário para poder me dar o carinho necessário, então apenas reconstruiu/projetou o que viveu em sua época.

Dessa maneira, eu devo estar sempre me policiando para não repetir a mesma história, é complicado. A gente sempre acaba repetindo o exemplo, mas na falta dela que não soube dar o emocional, meus avós e meus tios que fizeram por ela - com emocional e com coisas também - tanto que fui obrigada a fazer terapia por excesso de amor e não por falta dele e é em cima disso que tenho que me pautar, pensar que na falta da minha mãe tive outras pessoas para fazer, eu tenho sim o que dar para minha filha uma vez que recebi muito amor, carinho e cuidados.

Logicamente também tenho falta da figura materna, assim como a figura paterna porque meu pai como grande "ser iluminado" que é, sumiu quando minha mãe disse que estava grávida, eu não o conheço. Quer dizer, veja como a vida da minha mãe não foi fácil, eu sei que não foi e isso é um fator que há de ser considerado; fora outras situações que aconteceram e que não acho relevante colocá-las aqui mas que tiveram grande influência em sua vida. Hoje em dia o caminho que ela encontrou para se livrar da dor foi a igreja Congregação Cristã no Brasil a qual ela é adepta. Eu lembro da minha mãe muito bonita, vaidosa, toda arrumada para ir ao Baile do Palmeiras e hoje a olho quase não reconheço.


Camilla, Filha única de mãe solteira.

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