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transeuntes.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Consciência Negra


QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA*
Paulo Colina

Mascar granito. O negro brasileiro se volta para o passado em busca de suas raízes históricas. E arca sob o peso de quatrocentos anos de escravidão. Regime justificado pela teologia cristã, que acenou aos brancos com o destino à superioridade. Quatro séculos suficientes para sedimentar nas mentes da classe dominante brasileira o dogma estúpido de que o negro e
staria condenado hereditariamente à inferioridade. Mascar granito. A 14 de maio de 1888, os negros acordaram no Brasil para uma realidade tão opressora quanto a que viviam antes da “Abolição”. A sociedade os elevou à categoria de cidadãos, porém lhes reservou a banda podre do processo social brasileiro. Oportunidades justas? Aos negros, após o 13 de maio, foi destinado o desemprego, a subnutrição, a ignorância, a marginalidade. A chibata, o garrote, o pelourinho foram substituídos por um método ideológico de atrofiamento físico e mental. Havia que se manter os negros em seu estado de congênita inferioridade. Recusar a perplexidade, enquanto manto morno e suave do conformismo. Quase um século depois da Lei Áurea, o negro brasileiro encara o presente e constata que ainda lhe são negadas oportunidades econômicas, sociais e culturais.
Serra da Barriga, século XVII. O Quilombo dos Palmares resistiu por quase cem anos a inúmeras expedições de guerra custeadas por Portugal. Os brancos pintaram Palmares como um simples povoado de escravos fugitivos. Ou antro de salteadores negros. A realidade, entretanto, bem outra. Para os negros, Palmares significou o exercício pleno da liberdade, o resgate de seu real status de seres humanos. Um Estado Negro dentro do Estado de Alagoas, onde negros, brancos e índios exerciam democraticamente o direito de viver do que produziam. De um dos inúmeros mocambos palmarinos, uma criança com poucos dias de vida foi raptada, no começo de 1655. O menino foi dado de presente a um padre português e batizado com o nome de Francisco. Aos 17 anos fugiu. E retornou à Palmares. Para defender o Quilombo e torna-se seu líder, sob o nome temido, respeitado de Zumbi.
Manhã de 20 de novembro de 1695. Traição. Emboscada. O corpo de Zumbi tomba, peneirado por 15 tiros e diversas punhaladas.
Resistência; liberdade; efetiva e organizada participação social, política e cultural dos negros neste País: os símbolos de Palmares não poderiam jamais se perder com o sangue de Zumbi na mata da Serra Dois Irmãos. Por isso, a proposta, em 1978. Se os negros brasileiros têm que celebrar uma data, que seja o 20 de novembro.
Como o Dia Nacional da Consciência Negra. Organizados.
Mascando granito. Com a certeza de quem verga tempestades. E constrói nações.

*Texto feito em 1988 para a Agenda Cultural Afro-Brasileira -1888-1988.
Reaja à Violência Racial!
Posted 5th November 2007 by Movimento Negro Unificado - MNU

Um comentário:

Rodrigo Souza disse...

Excelente texto Camilla. Poucas pessoas tem um nível intelectual tão elevado quanto o seu, postando textos de tamanha importância e que nesse caso, relata melhor o significado do dia da "Consciência Negra". Parabéns!!!